TRANSPORTES DO MUNDO TODO DE TODOS OS MODELOS: Commando Veículos Especiais: O Sonho Brasileiro de um “Hummer Nacional” e a Inovação em Mobilidade Tática

29 outubro 2025

Commando Veículos Especiais: O Sonho Brasileiro de um “Hummer Nacional” e a Inovação em Mobilidade Tática

 Commando Veículos Especiais: O Sonho Brasileiro de um “Hummer Nacional” e a Inovação em Mobilidade Tática

A Commando Veículos Especiais Ltda., empresa sediada em São Paulo, tornou-se um nome marcante — ainda que efêmero — na história da indústria automotiva e de defesa brasileira do início do século XXI. Conhecida por desenvolver o que foi amplamente chamado de “o primeiro Hummer brasileiro, a Commando surgiu com uma ambição clara: criar uma família de veículos táticos leves, versáteis e nacionalmente projetados, capazes de atender tanto às forças de segurança quanto ao mercado civil de alto desempenho off-road.

Seu projeto mais emblemático, o Commando M4, representou uma tentativa ousada de combinar inspiração internacional com engenharia autóctone, num momento em que o Exército Brasileiro se preparava para modernizar sua frota de viaturas leves. Embora nunca tenha sido adotado oficialmente pelas Forças Armadas, o legado da Commando permanece como um exemplo de empreendedorismo técnico, capacidade de adaptação e visão estratégica em um setor altamente competitivo e regulado.


Origens e Contexto Estratégico

Fundada no início dos anos 2000, a Commando surgiu em um cenário de transição na defesa brasileira. A Engesa, outrora líder nacional em veículos militares, já havia encerrado suas atividades. Enquanto isso, o Exército planejava um novo programa de aquisição de viaturas leves 4×4 aerotransportáveis, destinadas a substituir jipes antigos e complementar plataformas como o EE-34 e os veículos baseados no Land Rover.

Foi nesse vácuo que a Commando decidiu propor uma solução própria. A partir de 2002, iniciou o desenvolvimento do Commando M4, um veículo declaradamente inspirado no Hummer H1 norte-americano — ícone global após sua atuação na Guerra do Golfo (1991) —, mas concebido integralmente no Brasil, com componentes nacionais e arquitetura própria.

A escolha do Hummer como referência não era casual: sua robustez, mobilidade cross-country e imagem de força haviam se consolidado globalmente. No entanto, a Commando buscou superar limitações do original, como seu tamanho excessivo e interior apertado, adaptando o conceito à realidade operacional e logística brasileira.


O Commando M4: Engenharia Nacional com DNA Tático

O M4 era notavelmente mais curto e estreito que o Hummer H1, o que facilitava seu transporte em helicópteros e sua manobra em trilhas estreitas da Amazônia ou zonas urbanas. Apesar das dimensões reduzidas, oferecia interior mais espaçoso, graças a um layout otimizado.

Estrutura e Blindagem

  • Chassi: tubular de aço de alta resistência, projetado para absorver impactos e torções extremas.
  • Carroceria: placas de plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV) com 6 mm de espessura, integradas a uma estrutura tubular interna.
  • Blindagem: leve, mas eficaz contra estilhaços e tiros de armas leves (classe balística não especificada publicamente, mas compatível com operações policiais e de baixa intensidade).

Essa combinação resultava em um veículo mais leve que o Hummer, com melhor relação potência/peso e maior eficiência logística.

Mobilidade e Propulsão

O M4 foi projetado para ser altamente versátil em termos de motorização, prevendo quatro opções de motores diesel turboalimentados:

  • International:
    • 4 cilindros, 135 cv
    • V8, 175 cv
    • V8, 275 cv
  • MWM:
    • 4 cilindros, 150 cv

A transmissão era manual de 5 marchas, com caixa de transferência com reduzida, essencial para operações off-road. A suspensão independente utilizava braços oscilantes, barras longitudinais e molas helicoidais, garantindo conforto e estabilidade em terrenos irregulares. Os freios a disco ventilados nas quatro rodas asseguravam desempenho seguro mesmo em descidas íngremes ou frenagens de emergência.

Variantes de Carroceria

Três configurações foram projetadas:

  1. Picape – para transporte logístico e apoio tático;
  2. Cabine dupla (4 portas) – ideal para patrulhamento e transporte de equipes;
  3. Station wagon (5 portas) – voltada para comando móvel ou transporte de oficiais.

Posteriormente, uma versão econômica foi desenvolvida sobre o chassi do Ford F-350, equipada com motor Cummins de 140 cv e tração 4×4 importada, visando reduzir custos para clientes com orçamentos limitados.


Expansão para o Mercado Civil: O Commando Predator

Diante da demora do Exército em lançar o edital de licitação, a Commando decidiu diversificar sua atuação. Em agosto de 2004, lançou a versão civil do M4, inicialmente chamada Commando 4×4, e, a partir de 2006, rebatizada como Commando Predator.

O Predator era oferecido de duas formas:

  • Kit de montagem: adaptável a diversos chassis nacionais (como os da Agrale ou Chevrolet), com ajuste na distância entre eixos;
  • Veículo completo: equipado com motor MWM 4.2L turbo de 180 cv, tração 4×4 permanente e acabamento premium.

Em 2006, a empresa lançou também:

  • Uma versão curta de duas portas, mais ágil e esportiva;
  • Uma réplica infantil, movida por motor a gasolina de 6,5 cv, destinada a colecionadores e eventos.

Além disso, visando competir diretamente com SUVs de luxo off-road, a Commando iniciou o desenvolvimento do Predator Evolution — uma nova geração maior, mais imponente, com para-brisa quase vertical e design ainda mais próximo do Hummer H1. Equipado com motor MWM 3.0 turbo de 190 cv, o Evolution buscava conquistar o nicho de grandes picapes de lazer e colecionadores.


Atuação no Setor de Segurança e Defesa

Paralelamente ao desenvolvimento do M4 e do Predator, a Commando manteve forte atuação no segmento de veículos blindados para forças de segurança.

Blindados sobre Land Rover 110 (2005)

A empresa construiu carrocerias blindadas sobre chassis do Land Rover 110 nacional, utilizando:

  • Estrutura tubular reforçada;
  • Revestimento em fibra de vidro com camadas balísticas;
  • Vidros antibala e proteção do compartimento motor.

Esses veículos foram empregados por polícias militares e forças de elite em operações urbanas de alto risco.

Commando Force 1 (2005)

Sobre o chassi Mercedes-Benz 1720 A, a Commando projetou duas variantes especializadas:

  1. Transporte de Tropas:

    • Capacidade para 12 soldados;
    • Três portas laterais para embarque rápido;
    • Seteiras para tiro defensivo;
    • Escotilha no teto para observação ou armamento leve;
    • Lançadores de granadas de gás lacrimogêneo.
  2. Controle de Distúrbios:

    • Equipado com canhão de água de alta pressão;
    • Lâmina frontal para remoção de barricadas;
    • Blindagem balística e anti-incêndio;
    • Sistema de ar condicionado autônomo para operações prolongadas.

Ambos os modelos contavam com proteção frontal reforçada, pneus à prova de furos e comunicações integradas, demonstrando a capacidade da Commando de atender a requisitos operacionais específicos.


Desafios e Legado

Apesar da engenharia sólida e da inovação demonstrada, a Commando nunca viu seu M4 adotado pelo Exército Brasileiro, que optou, anos depois, pelo Marruá AM2 da Agrale como padrão para viaturas leves. A ausência de encomendas governamentais em larga escala, somada aos altos custos de produção e à concorrência de veículos importados, limitou a expansão da empresa.

Ainda assim, seu legado é inegável:

  • Provou que engenheiros brasileiros podiam desenvolver veículos táticos de alto nível sem depender de licenças estrangeiras;
  • Introduziu conceitos de modularidade, leveza e blindagem composta antes pouco explorados no país;
  • Inspirou futuros projetos de mobilidade tática nacional.

Hoje, exemplares do Commando Predator são cobiçados por colecionadores de veículos off-road e aparecem em eventos de trilha e exposições de tecnologia militar.


Ficha Técnica – Commando M4 / Predator

Denominação
Commando M4 (militar) / Commando Predator (civil)
Origem
Brasil
Fabricante
Commando Veículos Especiais Ltda. (São Paulo/SP)
Ano de desenvolvimento
2002–2004
Chassi
Tubular de aço de alta resistência
Carroceria
PRFV (plástico reforçado com fibra de vidro), 6 mm + estrutura tubular integrada
Blindagem
Leve, anti-estilhaço e anti-armas leves
Tração
4×4 permanente com reduzida
Transmissão
Manual, 5 marchas
Suspensão
Braços oscilantes, barras longitudinais, molas helicoidais
Freios
Disco ventilado nas 4 rodas
Motores (opções)
International (135/175/275 cv), MWM (150–190 cv)
Variantes
Picape, cabine dupla 4 portas, station 5 portas, F-350 econômico
Uso
Militar, policial, segurança privada, civil off-road

Conclusão

A Commando Veículos Especiais foi mais do que uma montadora: foi um laboratório de ideias táticas, um manifesto de autonomia tecnológica e um símbolo do espírito empreendedor brasileiro em defesa. Embora sua trajetória tenha sido breve, seu impacto ressoa até hoje — especialmente em um momento em que o Brasil busca reforçar sua base industrial de defesa e desenvolver soluções adaptadas à sua geografia e doutrina operacional.

O Commando M4 pode não ter entrado em produção em massa, mas provou que o Brasil tem capacidade de criar veículos táticos de classe mundial. E, como todo bom projeto de engenharia, seu verdadeiro valor está não apenas no que foi construído, mas no caminho que abriu para os que viriam depois.


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COMMANDO

A empresa paulista Commando Veículos Especiais Ltda. ficou conhecida no meio militar nacional como a responsável pelo projeto e construção do primeiro “Hummer brasileiro“. Batizado Commando M4, foi declaradamente inspirado no original norte-americano – veículo para missões de apoio e combate celebrizado na Guerra do Golfo, em 1991. Tratava-se, porém, de projeto integralmente nacional, concebido a partir de 2002 para participar da concorrência programada pelo Exército Brasileiro para o fornecimento de nova família de blindados sobre pneus. Mais curto, muito mais estreito e com interior mais espaçoso do que o Hummer H1, o M4 tinha chassi tubular de aço de alta resistência e carroceria construída em placas de plástico reforçado com fibra-de-vidro com 6 mm de espessura, estrutura tubular integrada e blindagem leve de alta resistência e peso reduzido. O carro receberia suspensão por braços oscilantes, barras longitudinais e molas helicoidais, tração 4×4 com reduzida, caixa de cinco marchas e freios a disco ventilados nas quatro rodas. Eram previstas diversas opções de motor diesel, todos turboalimentados: três International  (4 cilindros de 135 cv, V8 de 175 ou 275 cv) e um MWM (4 cilindros, 150 cv). Foram desenhados três tipos de carrocerias: picape, cabine-dupla de quatro portas e station cinco-portas. Mais tarde foi também preparada uma variante mais barata, montada sobre o chassi do caminhão Ford F-350 com motor Cummins de 140 cv e tração 4×4 importada.
Enquanto o Exército não lançava o edital de licitação, a empresa investiu na versão do M4 para uso civil, colocando-a à venda em agosto de 2004. No início simplesmente chamada Commando 4×4 e dois anos depois Commando Predator, podia ser fornecida como kit para montagem sobre qualquer chassi nacional (com ajuste na distância entre eixos), ou completo, com motor MWM turbo (4 cilindros, 4,2 l e 180 cv). Em 2006 também foi criada uma versão mais curta, com duas portas, e até uma réplica infantil, com motor a gasolina de 6,5 cv. Naquele mesmo ano, visando o mercado das grandes picapes de lazer, a empresa começou a desenvolver nova família, mais diretamente calcada no Hummer H1 (maior porte e para-brisas quase verticais), modelo divulgado com o nome Predator Evolution. O Predator era fornecido com motor MWM turbo 3.0 de 190 cv.
Em paralelo, a Commando continuava a fornecer veículos blindados para uso policial, militar e de segurança. Em 2005 construiu carrocerias blindadas sobre jipes Land Rover 110 nacionais, com estrutura tubular e revestimento de fibra-de-vidro, e projetou dois veículos especiais para o chassi 1720 A da Mercedes-Benz, um para o transporte de tropas e outro para controle de distúrbios, genericamente denominados Commando Force 1. O primeiro, com capacidade para 12 soldados, tinha três portas, seteiras laterais, escotilha sobre o teto e lançadores de granadas de gás; o segundo, canhão de água e lâmina à frente do para-choque para a remoção de obstáculos. Ambos blindados, dispunham de ar condicionado e estrutura tubular dianteira para a proteção do motor.

 

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