InbraFiltro: Pioneirismo Nacional na Blindagem Aeronáutica e Veicular com o Projeto Gladiador
A InbraFiltro é um marco da indústria de defesa e segurança brasileira. Fundada em 1979 como parte do Grupo InbraFiltro, a empresa consolidou-se como líder nacional na fabricação de materiais transparentes para aeronaves, única produtora de vidros balísticos do Brasil e maior blindadora de veículos do país. Com duas unidades industriais localizadas em Mauá (SP), a InbraFiltro não apenas atende ao mercado civil de blindagem automotiva — colaborando diretamente com montadoras que comercializam veículos blindados como “originais de fábrica” — como também investiu, ao longo das décadas, em projetos de veículos blindados leves de uso militar e policial, culminando no ambicioso desenvolvimento da família Gladiador.
Seu percurso ilustra não só o avanço tecnológico nacional em segurança balística, mas também os desafios enfrentados pela indústria de defesa brasileira ao tentar competir em cenários de alta exigência técnica, escassez de apoio institucional contínuo e concorrência internacional acirrada.
Origens e Especialização em Materiais Blindados
Desde sua fundação, a InbraFiltro dedicou-se à fabricação de componentes aeronáuticos e à produção de materiais de proteção balística, incluindo:
- Vidros blindados para aeronaves, veículos e edifícios;
- Tecidos balísticos (aramida, UHMWPE);
- Colete à prova de balas e capacetes balísticos;
- Serviços completos de blindagem veicular, desde carros de passeio até veículos táticos.
Sua capacidade técnica permitiu-lhe tornar-se fornecedor exclusivo da aviação brasileira em materiais transparentes blindados — um nicho altamente especializado que exige rigorosas certificações de segurança e desempenho.
O Primeiro Passo em Veículos Especiais: O Carro de Valores de 1994
Em 1994, a InbraFiltro participou do desenvolvimento do primeiro carro-forte brasileiro projetado sob as novas normas de segurança do Ministério da Justiça. O veículo, montado pela IPCM, utilizava uma estrutura inovadora composta por aço balístico e fibra de aramida, reduzindo o peso em 580 kg em comparação aos modelos convencionais da época. Apesar de os vidros ainda serem importados dos EUA, essa experiência consolidou a empresa como referência em soluções integradas de proteção balística.
O Salto para a Defesa: O Primeiro VBL (2002)
O marco mais ousado da trajetória da InbraFiltro veio em 2002, com o lançamento de seu primeiro veículo blindado leve (VBL) — um termo militar para plataformas táticas móveis e protegidas.
Desenvolvido a partir de um projeto de conclusão de curso de quatro alunos da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), o veículo foi inteiramente construído pela InbraFiltro com base no Land Rover Defender 130. Características técnicas:
- Peso bruto: ~3,5 toneladas;
- Carroceria monobloco totalmente blindada (sem chassi estrutural independente);
- Proteção CBRN (química, biológica, radiológica e nuclear);
- Capacidade ofensiva: projetado para montar desde metralhadoras até morteiros de 81 mm;
- Desempenho off-road:
- Vão livre de 50 cm;
- Vau de 1,0 m;
- Rampa de 65%;
- Inclinação lateral de 30°.
O VBL foi exibido em eventos como o 1º Encontro Nacional de Logística Militar, o XXII Salão do Automóvel e a LAD 2003 (Latin America Defense), gerando grande interesse operacional. A empresa anunciou planos de expandir a família com versões 4×4 curta (baseada no Defender 100) e um modelo 6×6.
Contudo, o encerramento da produção do Land Rover no Brasil inviabilizou o uso contínuo dessa plataforma, forçando a InbraFiltro a repensar sua estratégia.
Reinvenção: O Novo VBL de 2009
Em 2009, na LAAD Defense & Security (antiga LAD), a empresa apresentou um VBL totalmente redesenhado, mais robusto e militarizado:
- Peso bruto: 6,5 toneladas;
- Capacidade: até 8 tripulantes;
- Mecânica:
- Motor MWM 4.8L turbodiesel (185 cv);
- Transmissão automática;
- Caixa de transferência com duas reduzidas;
- Suspensão com 20 cm de curso;
- Freios a disco com acionamento pneumático;
- Chassi convencional, permitindo instalação de escudo antimina;
- Sistema de segurança passiva: para-lamas e para-barros de fibra de vidro, projetados para se romperem em explosões, evitando o tombamento do veículo.
Essa versão aproximava-se mais dos veículos de combate modernos, com características superiores às de muitos blindados leves regionais.
O Projeto Gladiador: Busca por Viabilidade Operacional e Econômica
Diante dos altos custos do modelo de 2009, a InbraFiltro lançou em 2011 uma versão simplificada e nacionalizada: o Gladiador.
- Peso bruto: 3,5 toneladas;
- Mecânica nacional: baseada no jipe Agrale Marruá;
- Motor diesel 2.5L (115 cv);
- Câmbio manual de 5 marchas;
- Tração 4×4 permanente;
- Blindagem: carroceria monobloco em aço balístico;
- Conforto operacional: ar-condicionado, freios a disco nas quatro rodas.
O Gladiador buscava equilibrar custo, desempenho e soberania tecnológica, utilizando componentes 100% brasileiros — uma vantagem estratégica em um contexto de crescente demanda por nacionalização no setor de defesa.
Gladiador II (2014): Aposta Máxima na Soberania Tecnológica
Em 2014, a InbraFiltro apresentou o Gladiador II, um salto qualitativo que buscava atender aos novos requisitos técnicos do Exército Brasileiro para a categoria VBMT-LR (Viatura Blindada Multitarefa Leve sobre Rodas), parte do programa de modernização da frota do Exército.
Características Técnicas do Gladiador II
- Peso operacional: 9,2 toneladas;
- Carga útil: 1.000 kg;
- Capacidade: até 8 ocupantes;
- Motor: MWM 4.8L (185 cv);
- Transmissão: automática de 6 marchas com conversor de torque;
- Suspensão: totalmente independente com molas helicoidais;
- Freios: discos nas quatro rodas, duplos na dianteira, mais freio de estacionamento hidráulico na caixa de transferência;
- Blindagem: aço balístico monobloco, compatível com múltiplos níveis de proteção (STANAG 4569 Nível 1 a 3, conforme configuração);
- Modularidade: preparado para versões como:
- Transporte de tropas;
- Comando e controle;
- Ambulância blindada;
- Plataforma antitanque (com lança-mísseis);
- Radar de campo de batalha.
Desempenho Tático
- Vau: 0,80 m;
- Inclinação lateral: 30°;
- Rampa longitudinal: 60%;
- Obstáculo vertical: 45 cm;
- Ângulo de entrada: 64°;
- Ângulo de saída: 67°.
Essas especificações colocavam o Gladiador II em pé de igualdade com plataformas internacionais de classe similar.
A Desclassificação na Concrrência do Exército (2014)
Apesar do avanço técnico, o Gladiador II foi o único veículo não aprovado na fase de pré-qualificação do concurso do Exército Brasileiro para a aquisição de 186 VBMT-LR, encerrada em outubro de 2014. As demais concorrentes incluíam:
- Avibrás (em parceria com a Renault Trucks Defense, França);
- BAE Systems (com o RG-31);
- Iveco Defence (com o LMV);
- AM General (com o M1117 ASV).
A desclassificação — embora não detalhada publicamente — levantou debates sobre os critérios de avaliação, a necessidade de testes padronizados e o papel do Estado em apoiar a indústria nacional de defesa.
Legado e Relevância Estratégica
Mesmo sem alcançar sucesso comercial em larga escala no setor militar, o projeto Gladiador representa um esforço notável de engenharia nacional. A InbraFiltro demonstrou capacidade de:
- Desenvolver veículos blindados do zero;
- Integrar mecânica, blindagem e eletrônica em uma única plataforma;
- Inovar com soluções como estruturas monobloco, sistemas antimina passivos e modularidade operacional.
Além disso, sua atuação no mercado civil de blindagem — com certificações internacionais e parcerias com montadoras — sustenta sua posição como pilar da cadeia de segurança balística no Brasil.
Ficha Técnica – Gladiador II (2014)
Conclusão
A InbraFiltro é muito mais do que uma empresa de blindagem: é um símbolo do potencial inovador da engenharia brasileira em segurança e defesa. Seu projeto Gladiador, especialmente a versão II, demonstrou que o Brasil tem capacidade de desenvolver veículos militares competitivos — desde que haja apoio institucional, critérios transparentes de aquisição e continuidade estratégica.
Embora o Gladiador II não tenha sido adotado pelo Exército, seu legado permanece como um marco de soberania tecnológica e um chamado para que o país invista com seriedade na sua base industrial de defesa nacional.
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