TRANSPORTES DO MUNDO TODO DE TODOS OS MODELOS: Veículo Blindado Ligeiro de Transporte Bravia Chaimite

12 novembro 2025

Veículo Blindado Ligeiro de Transporte Bravia Chaimite

 

Veículo Blindado Ligeiro de Transporte Bravia Chaimite



Os EUA desenvolveram durante a década de 60 uma série de veículos sobre rodas para transporte de tropas e missões de apoio. Em Portugal foi fabricada uma versão nacional, a Chaimite, pela Bravia. O modelo fabricado em Portugal possui algumas semelhanças com o veículo blindado 4x4, de origem norte-americana, Cadillac Gage Commando.
Este veículo tem um total de nove versões. Entre elas, o V-700 com mísseis anti-tanque Hot ou Swingfire, o V-400 com torre equipada com um canhão de 90mm e a versão porta-morteiros (V-600) que pode ser equipada com morteiros de 120mm e 81mm.  
A versão de transporte (V-200) foi usada na Guerra Colonial e mais recentemente equipou também as forças portuguesas nos Balcãs. Nos Balcãs devido às condições climatéricas adversas foi incorporado um pára-brisas no lugar do condutor para o proteger do frio que se faz sentir nesta região durante o Inverno (foto de cima).
Os veículos receberam uma remotorização na década de 80. Actualmente o exército português opera as versões V-200 e V-600, que estão atribuídas aos ERec da BAI e da BLI e a outras unidades do Corpo do Exército.
Outros cinco países adquiriram este veículo à Bravia, e no total foram produzidos mais de 400 veículos, tendo apenas sido adquiridos perto de 80 por Portugal, operados quer pelo exército, quer pelos fuzileiros, embora estes últimos já não os usem. Os restantes foram adquiridos pelas Filipinas (20 veículos), Líbano (30 para a polícia), Peru (40 veículos para os fuzileiros), Líbia e Malásia.

Peso Máxima
7 toneladas
Armamento
Variável
Velocidade Máxima
99 km/h
Autonomia
804 km
Tripulação
11
Número de Unidades
81


Bravia Chaimite: O Blindado Ligeiro Nacional que Cruzou Continentes

Introdução

Durante a intensa corrida ao desenvolvimento de viaturas blindadas versáteis na década de 1960, os Estados Unidos lançaram uma nova geração de veículos sobre rodas 4×4, capazes de operar tanto em missões de combate quanto de apoio logístico e transporte de tropas. Um dos mais bem-sucedidos foi o Cadillac Gage Commando (V-100), que rapidamente conquistou o interesse de forças armadas aliadas em todo o mundo.

Em Portugal, diante da necessidade urgente de modernizar seu parque de viaturas blindadas durante a Guerra Colonial, surgiu uma iniciativa estratégica: a produção nacional de uma versão adaptada do Commando, que receberia o nome indígena "Chaimite"termo tupi-guarani que significa "guerreiro valente". Fabricado pela Bravia – Indústria de Produtos Químicos e Metalúrgicos, S.A., o Chaimite tornou-se o primeiro veículo blindado de produção nacional em grande escala e um símbolo da soberania industrial e militar portuguesa durante a segunda metade do século XX.


Origens e Desenvolvimento

O projeto Chaimite nasceu no final da década de 1960, com o objetivo de fornecer ao Exército Português e aos Fuzileiros uma plataforma blindada ligeira, móvel e modular, capaz de operar em ambientes hostis como os de Angola, Moçambique e Guiné. Embora baseado no Cadillac Gage V-100, o Chaimite incorporou alterações significativas ao longo do tempo, incluindo um sistema de suspensão reforçado, blindagem otimizada e, mais tarde, remotorização nacional.

A Bravia, sediada em Carnaxide, não apenas licenciou o projeto, mas desenvolveu capacidades próprias de engenharia e fabricação, chegando a criar versões exclusivas não existentes na família original norte-americana. A produção teve início em 1967, e o primeiro lote foi entregue às forças armadas portuguesas em 1969.


Versões e Modularidade

Uma das maiores virtudes do Chaimite foi a sua extrema modularidade. Ao longo de sua vida útil, foram desenvolvidas nove versões distintas, adaptadas a diferentes funções táticas:

  • V-200: Versão básica de transporte de tropas, com capacidade para 10 soldados + 1 condutor. Foi a mais numerosa e amplamente utilizada durante a Guerra Colonial e, posteriormente, nas missões de paz nos Balcãs.

  • V-400: Dotada de uma torre armada com canhão de 90 mm, transformando o Chaimite numa plataforma de apoio de fogo direto, comparável a um canhão automotor ligeiro.

  • V-600: Versão porta-morteiros, capaz de transportar e operar morteiros de 81 mm ou 120 mm, com capacidade de disparo a partir do interior ou após desembarque.

  • V-700: Equipada com sistemas de mísseis anti-tanque, como o HOT (francês) ou o Swingfire (britânico), convertendo o Chaimite numa unidade de defesa anti-blindagem móvel.

  • V-300: Posto de comando móvel.

  • V-500: Viatura de resgate e ambulância blindada.

  • V-800/900: Versões especializadas em reconhecimento e engenharia.

Essa diversidade permitiu que o Chaimite fosse empregado em quase todos os ramos do Exército, desde infantaria e artilharia até engenharia e transmissões.


Serviço Operacional

Guerra Colonial (1961–1974)

O Chaimite entrou em ação já nos últimos anos da Guerra Colonial, destacando-se pela mobilidade em terrenos difíceis, proteção contra armas ligeiras e minas leves, além da capacidade de realizar patrulhas e apoio a comboios. Sua blindagem, embora não à prova de canhões, oferecia proteção essencial contra tiros de armas de fogo convencionais e estilhaços.

Missões Internacionais (anos 1990–2000)

Após o conflito colonial, o Chaimite foi modernizado na década de 1980, com a substituição do motor original por um motor diesel nacional (Bravia/Perkins), aumentando a autonomia e a confiabilidade. Essa remotorização prolongou sua vida útil por décadas.

Durante as operações de manutenção da paz da ONU e da NATO nos Balcãs (Bósnia, Kosovo), os Chaimite da versão V-200 foram novamente mobilizados. Diante das condições climáticas extremas do inverno balcânico, foi introduzida uma modificação prática: a instalação de um pára-brisas fechado na posição do condutor, substituindo a proteção aberta original, para proteger o motorista do frio intenso — uma adaptação improvisada, mas eficaz, que ilustra a flexibilidade do design da viatura.


Operadores Internacionais

Além de Portugal, o Chaimite foi exportado para cinco países, um feito notável para um veículo de produção nacional em plena era da Guerra Fria:

  • Filipinas: 20 unidades
  • Líbano: 30 veículos, destinados à polícia nacional
  • Peru: 40 unidades, operadas pelos Fuzileiros Navais
  • Líbia: Quantidade não confirmada, mas com presença documentada
  • Malásia: Adquiriu um lote para forças de segurança internas

No total, foram produzidos mais de 400 Chaimites, dos quais cerca de 80 foram adquiridos por Portugal — distribuídos entre o Exército e os Fuzileiros. Estes últimos já não operam a viatura, mas o Exército Português mantém em serviço as versões V-200 (transporte) e V-600 (porta-morteiros), atribuídas principalmente aos Esquadrões de Recuperação (ERec) da Brigada Aerotransportada (BAI) e da Brigada Ligeira de Intervenção (BLI), bem como a outras unidades do Corpo do Exército.


Características Técnicas e Táticas

O Chaimite equilibra leveza, mobilidade e proteção, sendo ideal para operações de baixa intensidade, patrulhamento e apoio em ambientes urbanos ou semi-áridos. Sua estrutura monobloco em aço soldado oferece proteção balística níveis STANAG 1, resistindo a tiros de armas de pequeno calibre (até 7,62 mm).

Sua alta velocidade máxima (99 km/h em estrada) e longa autonomia (804 km) permitem que opere de forma independente, mesmo longe de bases logísticas. A tripulação de até 11 homens (incluindo motorista e comandante) confere grande flexibilidade tática.

O armamento varia conforme a versão, podendo incluir:

  • Metralhadoras 7,62 mm ou 12,7 mm
  • Canhão de 90 mm (V-400)
  • Lançadores de mísseis anti-tanque (V-700)
  • Morteiros de 81 ou 120 mm (V-600)

Ficha Técnica – Bravia Chaimite (Modelo Padrão V-200)

Designação
Veículo Blindado Ligeiro Chaimite (V-200 e variantes)
Origem
Portugal (baseado no Cadillac Gage Commando V-100)
Fabricante
Bravia – Indústria de Produtos Químicos e Metalúrgicos, S.A.
Primeira entrega
1969
Peso máximo (combate)
7 toneladas
Comprimento
5,05 m
Largura
2,26 m
Altura
2,34 m
Tripulação
Até 11 (1 condutor + 10 militares)
Motor (original)
Chrysler V8 gasolina, 160 hp
Motor (remotorizado)
Perkins diesel, ~180 hp
Transmissão
Automática, 4×4 com diferencial bloqueável
Velocidade máxima
99 km/h
Autonomia
804 km
Blindagem
Aço balístico (~8–12 mm), proteção contra 7,62 mm
Armamento
Variável (metralhadoras, canhão 90 mm, mísseis, morteiros)
Capacidade anfíbia
Não (opera em vau, mas não é flutuante)
Unidades produzidas
+400 (global); ~81 para Portugal
Operadores atuais (PT)
V-200 e V-600 no Exército Português

Legado e Atualidade

Embora tecnologicamente superado por plataformas modernas como o Pandur II ou o VAMTAC ST5, o Chaimite permanece como um marco histórico da indústria de defesa portuguesa. Foi o primeiro grande projeto de soberania industrial militar do país após a Segunda Guerra Mundial, demonstrando que Portugal podia não apenas importar, mas projetar, adaptar e produzir equipamentos de combate.

Hoje, as últimas unidades ainda em serviço são vistas com respeito e nostalgia, símbolos de uma era em que a inovação nacional foi colocada ao serviço da defesa do território e das missões internacionais. Museus militares, como o Museu do Combatente em Lisbon, já preservam exemplares do Chaimite como testemunhos vivos da engenharia e bravura portuguesas.

O "guerreiro valente" pode estar envelhecendo, mas seu legado permanece blindado na história militar de Portugal.

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