Veículo Blindado Ligeiro de Transporte Bravia Chaimite
Peso Máxima | 7 toneladas |
Armamento | Variável |
Velocidade Máxima | 99 km/h |
Autonomia | 804 km |
Tripulação | 11 |
Número de Unidades | 81 |
Bravia Chaimite: O Blindado Ligeiro Nacional que Cruzou Continentes
Introdução
Durante a intensa corrida ao desenvolvimento de viaturas blindadas versáteis na década de 1960, os Estados Unidos lançaram uma nova geração de veículos sobre rodas 4×4, capazes de operar tanto em missões de combate quanto de apoio logístico e transporte de tropas. Um dos mais bem-sucedidos foi o Cadillac Gage Commando (V-100), que rapidamente conquistou o interesse de forças armadas aliadas em todo o mundo.
Em Portugal, diante da necessidade urgente de modernizar seu parque de viaturas blindadas durante a Guerra Colonial, surgiu uma iniciativa estratégica: a produção nacional de uma versão adaptada do Commando, que receberia o nome indígena "Chaimite" — termo tupi-guarani que significa "guerreiro valente". Fabricado pela Bravia – Indústria de Produtos Químicos e Metalúrgicos, S.A., o Chaimite tornou-se o primeiro veículo blindado de produção nacional em grande escala e um símbolo da soberania industrial e militar portuguesa durante a segunda metade do século XX.
Origens e Desenvolvimento
O projeto Chaimite nasceu no final da década de 1960, com o objetivo de fornecer ao Exército Português e aos Fuzileiros uma plataforma blindada ligeira, móvel e modular, capaz de operar em ambientes hostis como os de Angola, Moçambique e Guiné. Embora baseado no Cadillac Gage V-100, o Chaimite incorporou alterações significativas ao longo do tempo, incluindo um sistema de suspensão reforçado, blindagem otimizada e, mais tarde, remotorização nacional.
A Bravia, sediada em Carnaxide, não apenas licenciou o projeto, mas desenvolveu capacidades próprias de engenharia e fabricação, chegando a criar versões exclusivas não existentes na família original norte-americana. A produção teve início em 1967, e o primeiro lote foi entregue às forças armadas portuguesas em 1969.
Versões e Modularidade
Uma das maiores virtudes do Chaimite foi a sua extrema modularidade. Ao longo de sua vida útil, foram desenvolvidas nove versões distintas, adaptadas a diferentes funções táticas:
V-200: Versão básica de transporte de tropas, com capacidade para 10 soldados + 1 condutor. Foi a mais numerosa e amplamente utilizada durante a Guerra Colonial e, posteriormente, nas missões de paz nos Balcãs.
V-400: Dotada de uma torre armada com canhão de 90 mm, transformando o Chaimite numa plataforma de apoio de fogo direto, comparável a um canhão automotor ligeiro.
V-600: Versão porta-morteiros, capaz de transportar e operar morteiros de 81 mm ou 120 mm, com capacidade de disparo a partir do interior ou após desembarque.
V-700: Equipada com sistemas de mísseis anti-tanque, como o HOT (francês) ou o Swingfire (britânico), convertendo o Chaimite numa unidade de defesa anti-blindagem móvel.
V-300: Posto de comando móvel.
V-500: Viatura de resgate e ambulância blindada.
V-800/900: Versões especializadas em reconhecimento e engenharia.
Essa diversidade permitiu que o Chaimite fosse empregado em quase todos os ramos do Exército, desde infantaria e artilharia até engenharia e transmissões.
Serviço Operacional
Guerra Colonial (1961–1974)
O Chaimite entrou em ação já nos últimos anos da Guerra Colonial, destacando-se pela mobilidade em terrenos difíceis, proteção contra armas ligeiras e minas leves, além da capacidade de realizar patrulhas e apoio a comboios. Sua blindagem, embora não à prova de canhões, oferecia proteção essencial contra tiros de armas de fogo convencionais e estilhaços.
Missões Internacionais (anos 1990–2000)
Após o conflito colonial, o Chaimite foi modernizado na década de 1980, com a substituição do motor original por um motor diesel nacional (Bravia/Perkins), aumentando a autonomia e a confiabilidade. Essa remotorização prolongou sua vida útil por décadas.
Durante as operações de manutenção da paz da ONU e da NATO nos Balcãs (Bósnia, Kosovo), os Chaimite da versão V-200 foram novamente mobilizados. Diante das condições climáticas extremas do inverno balcânico, foi introduzida uma modificação prática: a instalação de um pára-brisas fechado na posição do condutor, substituindo a proteção aberta original, para proteger o motorista do frio intenso — uma adaptação improvisada, mas eficaz, que ilustra a flexibilidade do design da viatura.
Operadores Internacionais
Além de Portugal, o Chaimite foi exportado para cinco países, um feito notável para um veículo de produção nacional em plena era da Guerra Fria:
- Filipinas: 20 unidades
- Líbano: 30 veículos, destinados à polícia nacional
- Peru: 40 unidades, operadas pelos Fuzileiros Navais
- Líbia: Quantidade não confirmada, mas com presença documentada
- Malásia: Adquiriu um lote para forças de segurança internas
No total, foram produzidos mais de 400 Chaimites, dos quais cerca de 80 foram adquiridos por Portugal — distribuídos entre o Exército e os Fuzileiros. Estes últimos já não operam a viatura, mas o Exército Português mantém em serviço as versões V-200 (transporte) e V-600 (porta-morteiros), atribuídas principalmente aos Esquadrões de Recuperação (ERec) da Brigada Aerotransportada (BAI) e da Brigada Ligeira de Intervenção (BLI), bem como a outras unidades do Corpo do Exército.
Características Técnicas e Táticas
O Chaimite equilibra leveza, mobilidade e proteção, sendo ideal para operações de baixa intensidade, patrulhamento e apoio em ambientes urbanos ou semi-áridos. Sua estrutura monobloco em aço soldado oferece proteção balística níveis STANAG 1, resistindo a tiros de armas de pequeno calibre (até 7,62 mm).
Sua alta velocidade máxima (99 km/h em estrada) e longa autonomia (804 km) permitem que opere de forma independente, mesmo longe de bases logísticas. A tripulação de até 11 homens (incluindo motorista e comandante) confere grande flexibilidade tática.
O armamento varia conforme a versão, podendo incluir:
- Metralhadoras 7,62 mm ou 12,7 mm
- Canhão de 90 mm (V-400)
- Lançadores de mísseis anti-tanque (V-700)
- Morteiros de 81 ou 120 mm (V-600)
Ficha Técnica – Bravia Chaimite (Modelo Padrão V-200)
Legado e Atualidade
Embora tecnologicamente superado por plataformas modernas como o Pandur II ou o VAMTAC ST5, o Chaimite permanece como um marco histórico da indústria de defesa portuguesa. Foi o primeiro grande projeto de soberania industrial militar do país após a Segunda Guerra Mundial, demonstrando que Portugal podia não apenas importar, mas projetar, adaptar e produzir equipamentos de combate.
Hoje, as últimas unidades ainda em serviço são vistas com respeito e nostalgia, símbolos de uma era em que a inovação nacional foi colocada ao serviço da defesa do território e das missões internacionais. Museus militares, como o Museu do Combatente em Lisbon, já preservam exemplares do Chaimite como testemunhos vivos da engenharia e bravura portuguesas.
O "guerreiro valente" pode estar envelhecendo, mas seu legado permanece blindado na história militar de Portugal.
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