Veículo Blindado Ligeiro de Reconhecimento Cadillac Gage V-150
Peso Máx. | 9 toneladas |
Armamento | 1 canhão de 90mm 1 metralhadora de 7,62mm |
Velocidade Máx. | 88 km/h |
Autonomia | 643 km |
Tripulação | 3+2 |
Número de Unidades | 15 |
Veículo Blindado Ligeiro de Reconhecimento Cadillac Gage V-150 no Exército Português: Entre a Modernidade e as Limitações Operacionais
O Cadillac Gage V-150 é um veículo blindado de reconhecimento desenvolvido nos Estados Unidos durante a década de 1960, concebido como uma evolução direta do bem-sucedido V-100 Commando. Produzido pela Cadillac Gage Company a partir de 1964, o V-150 foi projetado para oferecer maior capacidade de fogo, proteção e mobilidade em comparação com seu antecessor, mantendo, contudo, a mesma filosofia de um blindado leve, ágil e versátil para operações de segurança interna, reconhecimento e apoio tático.
Em Portugal, o V-150 chegou no final da década de 1980, como parte de um esforço de modernização das forças de reconhecimento, especialmente tendo em vista o desempenho insuficiente da já envelhecida Chaimite — uma versão nacional do V-200. Apesar de tecnicamente mais avançado que a Chaimite, o V-150 nunca chegou a ser empregue em missões internacionais, permanecendo confinado ao território nacional e a exercícios de instrução.
Desenvolvimento e Características Técnicas
O V-150 foi concebido para operar em ambientes urbanos, rurais e tropicais, com destaque para sua capacidade anfíbia, tracção integral 4×4 e blindagem balística leve capaz de resistir a tiros de armas pequenas (até 7,62 mm) e estilhaços de artilharia leve. Seu casco monobloco é construído em aço soldado, com forma angulada para melhor deflexão de projéteis.
Na versão adquirida por Portugal, o V-150 foi equipado com uma torre de combate armada com um canhão de 90 mm — uma peça de fogo direto capaz de enfrentar veículos blindados leves e alvos estáticos a distâncias médias. Complementarmente, o veículo dispõe de uma metralhadora coaxial de 7,62 mm, operada pelo atirador.
A disposição interna é funcional: o condutor e o comandante ocupam a parte dianteira, protegida por blindagem reforçada, enquanto o compartimento traseiro normalmente destinado às tropas foi ocupado pela estrutura da torre e pelo sistema de recuo do canhão de 90 mm, limitando o espaço para passageiros. Assim, a tripulação efetiva do V-150 português é composta por 3 militares (condutor, comandante e atirador), podendo transportar mais 2 soldados em missões de reconhecimento expandido.
Outras características técnicas relevantes:
- Peso máximo: 9 toneladas
- Motor: Detroit Diesel 6V53T, 6 cilindros, turbo, 275 cv
- Velocidade máxima: 88 km/h em estrada
- Autonomia: até 643 km
- Capacidade anfíbia: sim, com propulsão por rodas (sem preparação)
- Tracção: 4×4 permanente, com diferencial autobloqueante
- Suspensão: independentes com molas helicoidais
Emprego no Exército Português
Portugal adquiriu 15 unidades do V-150 no final dos anos 1980, todas na versão com canhão de 90 mm. Estas viaturas foram atribuídas a duas das unidades mais móveis e prontas do Exército:
- Esquadrão de Reconhecimento da Brigada Aerotransportada Independente (ERec/BAI)
- Esquadrão de Reconhecimento da Brigada Ligeira de Intervenção (ERec/BLI)
Essas unidades, especializadas em operações rápidas e de alta mobilidade, viam no V-150 um meio com maior poder de fogo que a Chaimite, ainda que com maior peso e menor agilidade tática.
Contudo, o V-150 nunca foi empregue em missões de paz — ao contrário da Chaimite, que participou nas operações da SFOR na Bósnia e da KFOR no Kosovo. Essa ausência de emprego operacional deve-se a múltiplos fatores, incluindo:
- Falta de capacidade aerotransportável eficaz: o veículo é pesado demais para ser lançado por paraquedas e difícil de integrar em aeronaves táticas sem preparação logística extensa;
- Vulnerabilidade em ambientes de combate moderno: sua blindagem leve e perfil alto o tornam um alvo fácil para armas antitanque e IEDs;
- Limitações da torre: a estrutura volumosa dificulta o transporte em contentores e helicópteros, além de elevar o centro de gravidade, comprometendo a estabilidade.
Críticas e Limitações Táticas
Apesar de seu canhão de 90 mm conferir um poder de fogo notável para um blindado leve, o sistema apresenta sérias limitações:
- A tracção 4×4, embora suficiente para terrenos médios, não oferece estabilidade suficiente para tiro preciso em movimento;
- O recuo do canhão, combinado com o chassi leve, gera vibrações que afetam a cadência e a repetibilidade do tiro;
- A torre não é estabilizada, obrigando a tripulação a parar o veículo para disparar com precisão — uma desvantagem crítica em combate móvel;
- A altura elevada (cerca de 2,7 m) aumenta a assinatura visual e térmica, dificultando camuflagem em zonas de combate.
Além disso, o V-150 não possui proteção NBQ, o que o torna inadequado para operações em ambientes contaminados — uma deficiência grave face às exigências modernas de interoperabilidade com forças da NATO.
Futuro e Substituição
Diante dessas limitações e do envelhecimento da frota (com mais de 35 anos de serviço), o Exército Português já planeja a substituição dos V-150. Está prevista a aquisição de seis novas viaturas blindadas 8×8, equipadas com canhão de 105 mm e sistemas de proteção ativa, visão térmica, estabilização de armamento e integração C4I avançada.
Essas novas plataformas — provavelmente baseadas em modelos como o Piranha V, Dragão (em desenvolvimento nacional) ou Boxer — representarão um salto qualitativo na capacidade de reconhecimento pesado do Exército, combinando mobilidade estratégica, proteção, precisão de tiro e interoperabilidade com os aliados da NATO.
Até lá, os V-150 permanecem em serviço limitado, utilizados principalmente em exercícios de instrução e apoio à formação de novas tripulações de blindados.
Conclusão
O Cadillac Gage V-150 foi, em seu tempo, uma tentativa corajosa de equilibrar poder de fogo e mobilidade num único veículo blindado leve. No contexto português, representou um avanço técnico em relação à Chaimite, mas suas limitações estruturais e operacionais impediram seu emprego em cenários reais de crise.
Embora nunca tenha disparado um tiro em combate, o V-150 cumpriu um papel relevante na transição doutrinal do Exército Português das forças ligeiras dos anos 1980 para as unidades mecanizadas e digitais do século XXI. Seu legado reside menos nas operações que realizou — e mais nas lições que deixou sobre os limites da adaptação de veículos comerciais a funções de combate de alta intensidade.
Ficha Técnica — Cadillac Gage V-150 (Exército Português)
Palavras-chave: Cadillac Gage V-150, Exército Português, veículo blindado, canhão de 90mm, reconhecimento blindado, BAI, BLI, Chaimite, blindado leve, substituição 8x8, Forças Armadas Portuguesas.
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